Protagonizado pelo famoso espadachim de orelhas pontudas, The Legend of Zelda é uma das maiores franquias de games já criadas, e das mais importantes da Nintendo. Desde o lançamento de seu primeiro jogo em 1986, The Legend of Zelda vem deslumbrando fãs em todo mundo, e nessa longa jornada de quase 30 jogos, vemos a evolução constante na qualidade de cada novo lançamento. Sendo pessoalmente uma enorme fã desde Zelda: Ocarina of Time, posso dizer que as melhorias não foram poucas em The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom.
Um primor para todo jogador que adora explorar mundos abertos e desvendar segredos, o novo lançamento eleva a franquia a novos patamares, mantendo sua essência clássica e superando seu antecessor. Integrando elementos tradicionais de Zelda ao vasto mundo de Hyrule introduzido no jogo anterior da franquia (The Legend of Zelda: Breath of the Wild, lançado em 2017), o game aprimora a profundidade da jogabilidade, a criatividade na hora de criar armas, veículos e construções por parte do jogador, traz uma história mais complexa e interação em áreas totalmente novas. Uma lição fantástica sobre como reutilizar elementos de um jogo já produzido e aprimorar outras características, expandindo o mapa do jogo em grande escala. Após mais de 150 horas jogando (e ainda tendo muuuito a explorar), tentarei tornar esse review o mais sucinto e sem spoilers possível. Caso ainda não tenha jogado Zelda: Breath of the Wild, recomendo que tente antes por questão de contexto, visto que Tears of the Kingdom é uma sequência direta.
Com um mundo ainda maior, a interconexão entre as ilhas no céu e o breu subterrâneo cria um ciclo dinâmico de jogabilidade, impulsionando tanto a progressão narrativa quanto a exploração. Visto nos trailers, Link inicia sua jornada na região das ilhas flutuantes, onde somos levados a um mundo celestial de beleza e novidades tecnológicas dos Zonai, uma antiga civilização meramente mencionada no jogo anterior, e desafios que funcionam como um tutorial. Posteriormente, quando já é possível explorar por conta própria, cada ilha oferece uma variedade de ambientes e obstáculos, desde puzzles de voo até enigmas que exigem habilidades de escalada e navegação precisa, proporcionando uma experiência recompensadora quando descobrimos algum item raro, shrine ou até mesmo um mapa do tesouro. Na superfície, a adição de nada menos que 147 cavernas também se mostra uma parte nova muito divertida, que sempre concede recompensas aos aventureiros, e muitas vezes abre novos atalhos para caminhos difíceis de atravessar no mapa.
Nos Depths (ou profundezas), exploramos uma região subterrânea vasta e sombria, cheia de desafios e mistérios. O ambiente é envolto em escuridão e cheio de mácula venenosa, tornando a exploração ainda mais perigosa, mas ao mesmo tempo abrindo um espaço para que o jogador encontre formas de navegar através da região sem perder seus preciosos corações. Para andar por esse labirinto de corredores e cavernas, precisamos encontrar Light Roots, fontes de luz que iluminam partes do mapa e revelam caminhos anteriormente ocultos. A escuridão cria uma atmosfera de tensão, incentivando os jogadores a permanecerem alertas para inimigos hostis e únicos encontrados por lá. Também somos apresentados a uma fauna e flora completamente diferente, encontrando cogumelos especialmente interessantes, e insetos bem criativos.
Entre as adições notáveis do game estão os dispositivos Zonai, substituindo as habilidades tradicionais de Sheikah do jogo anterior e oferecendo possibilidades infinitas para criar veículos, armas e invenções. Habilidades como Ultrahand, Recall, Ascend e Fuse aprimoram a interação com o ambiente e o combate, incentivando soluções criativas e personalização.
Uma das experiências mais divertidas e criativas em Zelda: Tears of the Kingdom é a habilidade Fuse. Com ela, podemos colar (ou fundir) diferentes itens juntos para criar armas únicas e poderosas – e algumas muito engraçadas. Por exemplo, é possível fundir uma espada com uma pedra para aumentar seu poder de dano, ou então, fundir uma bomba num escudo para criar uma defesa explosiva que também pode ser usada de forma ofensiva em combate. As flechas também não ficam de fora, sendo possível criar flechas de raio, gelo, ou, bem, frango assado. As inúmeras possibilidades ajudam muito na hora de criar diferentes estratégias de luta, já que tudo tem um efeito diferente. E como o jogo não limita quais itens serão fundidos, é possível até mesmo juntar armas com alimentos (fica minha sugestão de fundir um cogumelo em um pedaço de madeira). Além dos usos variados, a mecânica oferece uma solução inteligente para a degradação de armas, permitindo aos jogadores fundir várias armas para criar versões mais duráveis e poderosas.
Com a Ultrahand, podemos mover e empilhar objetos grandes, como pedras, troncos e outros elementos do ambiente para construir veículos improvisados, como carrinhos ou barcos. Essa capacidade de manipulação dos objetos permite aos jogadores criar seus próprios meios de transporte para navegar pelo vasto mundo de Hyrule, adicionando uma nova dimensão à exploração do jogo. Não apenas para veículos, a habilidade Ultrahand possibilita a construção de estruturas defensivas ou ofensivas, seja defendendo-se de inimigos ou superando obstáculos ambientais. Vemos fortalezas improvisadas, armadilhas engenhosas, aparatos peculiares para transportar Koroks, e até mesmo robôs, barcos e fortalezas. O arsenal criativo é ilimitado!
Uma de minhas principais reclamações em Breath of The Wild foi falta de criatividade nas dungeons e chefões repetitivos. Finalmente vemos uma grande melhora, já que dessa vez temos locais elaborados e diversos, oferecendo uma variedade de desafios e mecânicas únicas não apenas dentro das dungeons em si, como para chegar até elas. Cada uma possui um tema distinto que segue os quatro povos do jogo, e apresenta puzzles que requerem habilidades específicas do jogador para serem resolvidos. A parte interessante é que temos a companhia de personagens da tribo correspondente, que emprestam suas habilidades únicas para nos ajudar a vencer os desafios. Uma vez que a dungeon é terminada e seu chefe é derrotado, aprendemos mais sobre a história do jogo e a importância dos personagens que nos acompanharam.
Os chefes das dungeons possuem designs criativos e estratégias de combate únicas, apresentando padrões de ataque distintos. Travamos uma luta que se assemelha a uma cutscene em determinado momento do combate, que traz uma variação interessante para a forma em que normalmente enfrentamos chefões. A única crítica é que, ao meu ver, gostaria que trouxessem mais dificuldade para serem vencidos.
A história é mais complexa do que a do jogo anterior por diversos motivos. Em Tears of the Kingdom, há uma maior profundidade nos personagens, incluindo uma exploração mais detalhada dos vilões, tornando suas motivações mais claras e intrigantes. Além disso, o enredo oferece reviravoltas inesperadas que não vi chegando, e uma narrativa mais rica, com intrigas políticas vindas desde a criação do reino de Hyrule, e a apresentação de Sages (sábios) aliados de eras anteriores. A princesa Zelda tem um papel muito mais importante e aparece com mais frequência, deixando claro sua personalidade estudiosa, dedicada e preocupada com o que pode ocorrer com o futuro de seu reino. Ela passa por um treinamento e tem uma função prática importante para a jornada de Link.
E falando em vilões, finalmente temos o retorno de nosso querido “grande rei da maldade”: Ganondorf (que fez muita falta em Breath of the Wild!). Como sou particularmente fã do portador da triforce do poder, ver Ganondorf com um design novo, relembrando trajes da sua tribo Gerudo sem perder o aspecto intimidador e sombrio fez meus olhos brilharem! É mostrada sua sede de poder, seu pensamento estrategista e seu carisma em partes da história, que adorei acompanhar.
Os povos Zora, Goron, Rito e Gerudo retornam em suas terras e culturas distintas. Da mesma forma que nos outros jogos da franquia, cada povo tem sua própria cidade ou vila, onde os jogadores podem interagir com os habitantes locais, participar de atividades e completar missões específicas daquele povo. Aprendemos mais sobre a história e a cultura de cada um através de diálogos e eventos, adicionando profundidade ao mundo de Hyrule. Dessa vez, os representantes dos povos são jovens habilidosos que lhe ajudam durante a jornada, e já haviam aparecido no jogo anterior. Senti um certo orgulho de revê-los mais crescidos e com funções importantes. Adorei especialmente como Tulin seguiu os passos do pai e também o poder de liderança, força e resiliência de Riju. Além deles, os novos personagens Zonai são carismáticos e com design belo e único, e vislumbrar uma nova tribo em Zelda foi um frescor.
O game também se destaca em seu design de áudio e trilha sonora. As melodias envolventes e as paisagens sonoras atmosféricas complementam perfeitamente o jogo, aumentando o senso de aventura e descoberta. Como já vimos algumas dessas músicas no game anterior, talvez não tenha gerado um impacto tão grande para mim, mas não significa que não encaixaram perfeitamente com a proposta do jogo.
Joguei a versão em inglês e portanto não irei opinar sobre a voz original japonesa, porém o trabalho de dublagem encaixou perfeitamente nos personagens e aumentou ainda mais na imersão. Um destaque para o líder dos Gerudo, Ganondorf, que tem a dublagem em inglês feita por ninguém menos que Matt Mercer, adicionando mais um ponto muito forte para o personagem.
Zelda: Tears of the Kingdom é um triunfo em todos os sentidos da palavra. Ele expande os pontos fortes de seu antecessor enquanto introduz novos elementos emocionantes que empurram os limites do que é possível em um videogame, especialmente considerando a qualidade do processamento do Nintendo Switch. A enorme expansão do mapa com a adição de cavernas, Ilhas flutuantes e Abismos, juntamente com a habilidade Fuse e Ultrahand, criam uma experiência de jogo que é ao mesmo tempo familiar e glorificantemente nova. A possibilidade criativa na fusão de armas e objetos, além das construções variadas, aumenta muito a facilidade de manter o jogador entretido mesmo após finalizar a campanha principal. Com sua história cativante, visuais deslumbrantes e jogabilidade ainda melhor, Zelda: Tears of the Kingdom estabelece um novo padrão para jogos de mundo aberto. Seja você um fã de longa data ou um novato na franquia, não deixe de jogar!
Pontos fortes: Exploração do mundo ainda maior. Habilidades Ultrahand e Fuse para criação de armas, veículos e armadilhas criativas e divertidas. História mais focada no desenvolvimento dos personagens, com o retorno de Ganondorf.
Pontos fracos: Chefões relativamente fáceis de serem derrotados. Alguns locais do mapa com pouca variação quando comparado ao jogo anterior. Falta de inimigos realmente desafiadores em áreas mais frequentes do mapa, como os Guardiões no jogo anterior.
Avaliação final: 5/5 ⭐⭐⭐⭐⭐